A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

Enem-2015


Texto 1

No ano de 2011, tomou posse como líder maior da nação brasileira a candidata Dilma Rousseff. A faixa presidencial que ela ostenta desde então representa, simbolicamente, o empoderamento da mulher – algo impensável décadas atrás. Contudo, o mesmo povo que a colocou no poder é capaz de produzir vergonhosa estatística: índices crescentes de violência contra o sexo feminino. Analisar as causas dessa prática hedionda é o primeiro passo para reverter esse triste quadro.

É válido apontar, antes de tudo, a visão machista e opressora que ainda existe na célula mais básica da sociedade: a família. O patriarcalismo histórico posicionou o homem como o chefe e provedor da casa, em detrimento da mulher – responsável pelas tarefas domésticas. Mesmo que inúmeras conquistas, como a do mercado de trabalho, tenham sido obtidas, elas continuam sendo vítimas da sensação de domínio de seus companheiros. Prova disso são os recorrentes casos de agressão física, violação sexual e até mesmo homicídios que ocorrem na esfera de carinho e proteção que supostamente seria ela.

Entretanto, não é somente em casa que a violência contra a mulher acontece. A vitrine midiática do mundo capitalista impõe, muitas vezes, uma percepção do sexo feminino como um objeto, próprio para o consumo. A erotização e a exploração da sexualidade são comuns em propagandas e programas de televisão, que preferem sobrepor corpos seminus à essência individual. Nesse contexto de objetificação, são inúmeros os relatos de assédio e constrangimento ocorridos na rua e no trabalho, afinal, uma “mercadoria” não pode se negar ao seu “comprador”.

Fica claro, portanto, que agressões à mulher constituem uma grave mazela social, que deve ser combatida. Para isso, a policia e o judiciário devem garantir a aplicação e a fiscalização de leis como a Maria da Penha e Feminicídio – principalmente contra os companheiros. ONGs podem dar suporte às vítimas, oferecendo atendimento psicológico adequado a mulheres violentadas. Por fim, a mídia deve combater a cultura do assédio, não só com campanhas publicitárias, mas também com engajamento ficcional, como o que ocorre nas novelas. Talvez assim consigamos construir uma nação com igualdade real entre os gêneros.


Texto 2
Nunca mais mulheres-de-atenas

Certa vez, Chimamanda Adichie, importante nome na literatura africana e na luta pelos direitos femininos, falou da importância de encorajar mais mulheres a se atreverem a mudar o mundo. De fato, é possível ver que o espaço dado ao “segundo sexo” de Simone de Beauvoir, antes limitado, tem crescido cada vez mais. Entretanto, não são raros no Brasil os casos de violência contra aquelas que deveriam, em um mundo de direitos humanos, ser respeitadas e ter seu lugar, mantendo, muitas vezes, um cenário de opressão que já se cristalizou. Nesse sentido, vale analisar o porquê de algo tão condenável ter se tornado perene e identificar soluções para resolver esse problema.

É importante destacar, em primeiro lugar, a cultura de inferiorização que vem sendo alimentada por séculos. Não é de hoje que a mulher é subjugada e violentada – física, psicológica ou moralmente – pelo homem. Artigos de Heloisa Buarque de Hollanda, pesquisadora e ensaísta brasileira, mostram a existência de um feminismo já no século XIX, como resposta a um comportamento masculino opressor. Nas obras sobre o Brasil Colônia, já era possível ver a reprodução de valores machistas e patriarcais. O poder instaurado por uma fatia da sociedade, de certa forma, torna mais consistentes as manifestações de violência, que, apesar da grande repulsa nos dias de hoje, ainda têm seu espaço.

Embora pareça algo inerente à sociedade brasileira, não podemos esquecer os esforços intermináveis do legislativo, que busca, por meio de alguns projetos de lei, resolver esse problema na sua raiz. Em 2006, a Lei Maria da Penha já iniciava uma luta consistente contra a violência doméstica, seguida, em 2015, da Lei do Feminicídio, que criminaliza à parte a morte de mulheres. Importantes nomes da política brasileira, como Jandira Feghali e Benedita da Silva, brigam diariamente pela aprovação de medidas que tentem reduzir o número de casos de agressão e até morte no Brasil. Percebe-se, porém, que esse esforço não tem sido tão expressivo a ponto de extirpar de vez esse problema da sociedade.

Torna-se evidente, portanto, a necessidade de se entender esse problema e propor medidas que, entre outras, tornem mais eficazes propostas já lançadas e amenizem – ou até resolvam – essa questão. A mídia, grande difusora de informações, pode trabalhar, em conjunto com o governo, a divulgação de tais leis já existentes, de forma que as mulheres que sofram qualquer tipo de violência saibam que podem denunciar os agressores e se manter seguras. Além disso, por meio de ficções engajadas, podem promover debates que, levados à sociedade, trabalhem a ideia na sua raiz. Por fim, ONGs que defendam os direitos das mulheres podem continuar pressionando os três poderes, a fim de que, em pouco tempo, tenhamos mais projetos que contemplem o sexo feminino. Assim, aos poucos, poderemos encontrar na sociedade brasileira mulheres que mudem o mundo, que não sejam mais morenas que têm medo apenas, que não sejam mais mulheres de atenas.


Texto 3
Contrariando Beauvoir

Simone de Beauvoir. Leila Diniz. Marta Suplicy. Mulheres que, em diferentes épocas e situações, levantaram suas bandeiras na luta contra a injustiça e a ausência de direitos femininos. Anos se passaram. Direitos assegurados. Porém, embora a mulher brasileira tenha conquistado espaço em vários setores, existe ainda um grande caminho a ser trilhado no que diz respeito aos crimes de violência. Até que ponto a igualdade entre os gêneros, de forma plena, é respeitada em nossa sociedade?

É fundamental comentar o aspecto da cultura da impunidade que insiste em prevalecer em vários âmbitos sociais. Muitos diriam que delegacias e secretarias a favor das mulheres foram criadas e, com isso, suas garantias estariam estabelecidas. Ledo engano. Em nosso país, as leis são brandas. Não há punição efetiva. Prova disso é verificada em estatísticas que revelam menos da metade dos processos efetivamente julgados e resolvidos. Nesse sentido, não há muito ainda o que comemorar se ainda somos noticiados de feminicídios constantes. 

Há quem afirme que a violência feminina já tenha reduzido, pois a imagem da mulher apresenta avanços no nosso país. Mais uma vez: equívoco garantido. A base do pensamento da nossa sociedade ainda é conservadora e patriarcal. Sinais de desrespeito e submissão são notórios quando reparamos na cultura do “fiu-fiu” reinante no universo machista. Dessa forma, confirma-se a visão cristalizada de que a mulher não é tratada com dignidade e valor. Propagandas, novelas e músicas ainda sustentam e corroboram essa inferioridade que acaba levando a atos de violência moral, física e sexual. 

Fica claro, portanto, que, se comparada com décadas anteriores, muito se evoluiu em termos de garantias em prol da mulher. No entanto, no que diz respeito à violência, há muito que ser feito para reverter o atual quadro tão vergonhoso. Mais que criação de leis e varas especializadas, nossas instituições precisam garantir a eficácia e a aplicação de penalidades contra as mulheres. Campanhas divulgadas na mídia podem ser intensificadas, não só como denúncias de casos violentos, mas também com caráter de instrução. Talvez assim, possamos ter em alguns anos a inversão da célebre frase – as mulheres nascem e são respeitadas como iguais.

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